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A ênfase da tradição Theravada de budismo é da conduta moral servindo de base para uma mente saudável que então pode ser desenvolvida para ganhar ainda mais qualidades continuamente, até alcançar um alto nível de sabedoria e pureza, suficientes para quebrar o ciclo de nascimento e morte e alcançar a liberdade e a realização de Nibbāna. Apesar de também existirem aspectos devocionais no budismo Theravada, o caminho de libertação não passa por cerimônias místicas ou depende da bênção ou aprovação de deidade alguma, mas sim do esforço e dedicação do estudante, além de prática correta. Para aqueles que ainda não conhecem nada sobre budismo, sugerimos a leitura deste curto livro.
A grande maioria das tradições budistas presentes no mundo atual derivam de um movimento de reforma iniciado cerca de 400 anos após o falecimento do Buddha. Este movimento trouxe uma nova abordagem aos ensinamentos do Buddha, e, talvez sua característica mais marcante, mudou o foco da prática para dar ênfase quase exclusiva ao ideal do Bodhisatta, introduzindo a ideia de que os Arahants não estão de fato iluminados e que somente os Buddhas alcançam verdadeira iluminação. Portanto, rejeitaram a figura do Arahant, tomando-o por um caminho egoísta, e focaram no caminho de prática do Bodhisatta (um aspirante a tornar-se um Buddha); se autodenominaram Mahāyana e então passaram a chamar os budistas ortodoxos de Hinayana. O termo é portanto um exônimo, e os praticantes do Theravada não aceitam a denominação pois a consideram ofensiva – o termo hīna significa “inferior, grosseiro, de má qualidade”. Para mais detalhes sobre este assunto, recomendamos a leitura deste texto: Arahants. Bodhisattvas e Buddhas e assistir esses vídeos: Theravada para praticantes Mahāyāna/Vajirayāna
Ambas as linhagens de pensamento evoluíram por mais de 2000 anos de história, e principalmente o Mahāyana, acabaram por subdividir-se em várias centenas de escolas e tradições, incluindo aqui as diversas tradições tibetanas (que preferem ser chamadas de Vajrayana) e as escolas Zen e Terra Pura, que prosperaram principalmente na China, Japão e Coreia.
Entre as principais diferenças entre o budismo Theravada e as diversas tradições Mahāyana e Vajrayana podemos citar:
- No Theravada não há obrigatoriedade em fazer-se o voto de Bodhisatta. Aqueles que quiserem podem fazê-lo, aqueles que quiserem podem almejar tornarem-se Arahants, Pacceka Buddhas ou não precisam ter um objetivo definido, podem apenas melhorar e purificar a si mesmo continuamente sem fazer compromisso com um ou outro caminho específico.
- O Theravada afirma que os Buddhas e os Arahants alcançam a exata mesma iluminação. O próprio Buddha é visto nas escrituras antigas afirmando isto categoricamente e ele mesmo se declarava um Arahant. Faz inclusive parte do cântico mais básico que todas as escolas recitam: Namo tassa bhagavato arahato sammā-sambuddhassa.
- Não é dada tanta ênfase aos aspectos divinos do Buddha. Embora também haja menção deles nas escrituras, a ênfase é mais dada a seu aspecto humano. Em vez de retratá-lo flutuando no espaço emanando raios de luz, o Buddha é em geral retratado ao pé de árvores, ensinando, se alimentando como as demais pessoas e mesmo sofrendo das doenças normais que todos experienciam.
- O Theravada não reconhece um segundo ou terceiro “por em movimento da roda do Dhamma”. Nas escrituras o Buddha se declarava “um professor de mão aberta”, que não escondia aspectos de seus ensinamentos. Ele ensinou o caminho completo de forma aberta para todos que quisessem ouvir, quando ainda era vivo. Os diversos ensinamentos “secretos” que afirmam terem sido revelados centenas ou milhares de anos após sua morte são considerados adições ao original, mas não a palavra do próprio Buddha. Da mesma forma, apesar do Theravada reconhecer a existência de Buddhas do passado e existência de mais Buddhas no futuro, não afirma a possibilidade de mais que um Buddha coexistindo ao mesmo tempo num universo. Atualmente ainda estamos dentro do sāsanā do Buddha Gotama e muitos milhares de anos após o término deste sāsanā, será a época do Buddha Meteya alcançar a iluminação e novamente pôr a roda do Dhamma em movimento.
Isso pode ser visto claramente no Tipitaka onde muitas vezes ele não ensinava uma pessoa pois via que não seria útil fazê-lo, ou não ensinava quem não tinha interesse em aprender, e não tentava converter ninguém. Ele não interferia na sociedade a não ser quando alguma regra social se tornava um obstáculo a iluminação. Alguns exemplos:
- Ele não fazia campanha ou protestos contra o sistema de castas, mas dizia claramente que não é verdade que uma pessoa é pura ou suja dependendo de seu nascimento em uma família ou outra; ele mesmo não obedecia ao sistema de castas e proibia aqueles que se ordenavam monges de obedecer a esse sistema. Com relação ao restante da sociedade, ele não interferia.
- Na época do Buddha havia escravidão e ele não fez protestos ou campanha para encerrar essa prática. O que ele fazia era ensinar a todos que tivessem interesse em ouvir e aceitar na ordem monástica mesmo escravos, desde que esses antes obtivessem sua liberdade de forma legal.
- Na época do Buddha as mulheres estavam completamente subjugadas aos homens, quase ao ponto de serem tratadas como posses materiais. O Buddha não fez nada para mudar essa prática, a não ser apoiar com ensinamentos todas que tivessem interesse em aprender e praticar o Dhamma, e também dar oportunidade a quaisquer mulheres que quisessem tornarem-se monjas, desde que antes obtivessem permissão de seus maridos, caso fossem casadas. Já aos homens, ele não exigiu que pedissem permissão às esposas.
- Na sociedade da época não havia democracia, e ele não fez nada a respeito. Na sociedade da época havia desigualdade social e financeira entre as pessoas, e ele não fez nada a respeito. Não defendeu o fim da posse privada, o direito universal, a abolição do Estado, etc, etc. E existem muitos outros exemplos que demonstram a mesma coisa: o propósito do Buddha entre os seres humanos era apenas ensinar o caminho para a iluminação. Somente quando alguma regra ou costume social se mostrava um obstáculo à libertação, é que ele se declarava a respeito.
O outro ponto a ser compreendido diz respeito à sua iluminação. No exato momento em que ele alcançou Nibbana, surgiram em sua mente os Três Conhecimentos (Te Vijjā): a lembrança de suas vidas infinitas passadas, a visão dos demais seres também morrendo e renascendo movidos por seus respectivos carmas, e o conhecimento da libertação da mente. Sendo assim, o Buddha havia adquirido o pleno conhecimento do que é o caminho para o despertar, o que consiste em um impedimento, e o que não é um impedimento à realização de Nibbana.
Tendo tido tal experiência, quando passou a ensinar às demais pessoas, ele era extremamente claro: em nenhuma situação, por ninguém ou por razão alguma, ele aprovava o matar de um ser vivo. Ao mesmo tempo, há evidências nos textos de que ele consumia carne quando essa era ofertada como esmola e em muitas ocasiões é relatado o Buddha consumindo derivados do leite. Além disso, mesmo tendo sido requisitado mais de uma vez sobre o assunto, se recusou categoricamente a impor uma regra de conduta que proibisse o consumo de carne a seus discípulos monásticos. Não seria essa uma contradição? Se você novamente refletir sobre o propósito da presença do Buddha no mundo, poderá enxergar que não é uma contradição.
O motivo pelo qual proibiu o ato de matar seres vivos a seus discípulos, é porque esse é um impedimento à realização de Nibbana. O mau carma que surge dessa ação de fato funciona como um bloqueio que impede a pessoa de progredir em direção à libertação. Já o ato de consumir a carne de um animal morto por outra pessoa, por mais que possa ser entendido como um fator contribuindo para a morte daquele animal, não chega a ser um carma que impede a realização de Nibbana. Ele constatou, por observação direta, que um é impedimento, já o outro não chega a tanto e, portanto, proibiu um, mas não o outro. E ainda assim notem: proibiu somente a seus discípulos, não à sociedade como um todo. Ele não se declarava o dono do mundo, o enviado de Deus, e não exigia obediência a ninguém – ele só ensinava aqueles que queriam aprender.
Sendo assim devemos ou não consumir carne? Esse é mais um assunto sobre o qual o Buddha não interfere uma vez que não é um obstáculo à iluminação. Se as pessoas, usando bom senso e inteligência, acharem que é melhor não comer carne e, por motivos de ecologia, compaixão e saúde, optarem por uma dieta vegana, o Buddha também não se opõe porque dieta vegana não é um obstáculo para a iluminação.
Mas se alguém dissesse (como era dito por seitas na época em que ele ainda era vivo, e como ainda é defendido por até mesmo alguns praticantes de certas linhagens budistas modernas) que a iluminação só é possível àqueles que comem uma dieta X ou Y, então nesse caso ele interferia e denunciava tal ideologia, simplesmente porque não é verdade, e dizer tal coisa, sim, é criar um obstáculo para que os seres alcancem a libertação.
Ou seja, se você tem recursos financeiros para isso, se por compaixão ou consciência ecológica, opta por uma dieta vegana, e isso não traz problemas à sua saúde, vá em frente. Apenas não pense que sua dieta lhe seja garantia de pureza espiritual ou certificado de compaixão. Nossa história recente tem muitos bons exemplos de pessoas veganas que eram terrivelmente cruéis e maldosas, e ao mesmo tempo podemos achar muitas pessoas que comiam carne e eram incrivelmente bondosas e compassivas, algumas até mesmo plenamente iluminadas.
Lista de sites sobre Budismo Theravada no Brasil e em Portugal (atualizada em Março de 2023)
- Acesso ao Insight
- Ajahn Buddhadasa
- Bhante Katukurunde Ñānananda
- Buddha Sasana
- Caminho do Dharma
- Casa de Dharma – SP
- Centro de Meditação Budista Kammatthãna
- Chuva do Dharma
- Dhamma Ghara
- DhammaBr
- Ensinamentos de Ajahn Jayasaro
- Espaço Metta, Campo Grande – MS
- Folhas no Caminho
- Forum Sangha Online
- Goenka
- Mosteiro Budista Sumedhārāma – Portugal
- Mosteiro Budista Suddhavāri, São Lourenço – MG
- Nalanda, Belo Horizonte – MG
- Pétalas no Caminho
- Sociedade Budista do Brasil – RJ
- Sociedade Vipassana – DF
- Sutta Central
- Theravada
- Upaya – Portugal
- Vidas de Buddha
- Wat Marp Jan
Livros
Áudio
- Guia básico para meditação budista
- Livro – Por fora e por dentro
- Livro – Darma da Floresta
- Práticas devocionais
Se você quer fazer perguntas, venha nos visitar pessoalmente. Não julgamos apropriado fazer muitos esclarecimentos por mensagens eletrônicas pois é difícil avaliar a pessoa com quem estamos conversando para então dar a melhor resposta possível. Tomamos o ensinamento do Buddha muito a sério e julgamos que vale a pena ir pessoalmente a um lugar específico para fazer contato com ele, ao invés de apenas sentar em frente um computador e teclar perguntas. Estamos cientes de que muitos moram longe e não têm a possibilidade de vir pessoalmente, mas nós também temos nossos limites e não podemos estar disponível para todas as pessoas, o tempo todo. Também é importante ressaltar que o budismo é uma filosofia muito extensa e profunda, não é de uma só olhada que você será capaz de aprender tudo. Muitas vezes o que é necessário é ter um pouco de paciência e ir aos poucos pesquisando, praticando e fazendo contato com outros budistas até todas suas dúvidas sejam esclarecidas.
Existem muitos mosteiros no ocidente, mas nesses países há sempre o obstáculo da língua e a dificuldade em obter visto de estadia. Em Portugal, por exemplo, há um monastério onde se fala português, mas o problema do visto persiste. No que diz respeito a facilidade em obter visto, a única alternativa viável a brasileiros é a Ásia, nominalmente: Tailândia, Sri Lanka e Mianmar. Nesses países há vistos específicos para quem quer tornar-se monge, mas ainda assim é necessário ser fluente em inglês e encontrar um mosteiro que tenha estrutura para receber estrangeiros, onde ensinamentos e instruções sejam dadas em inglês. O que nós recomendamos:
Para homens
- Wat Marp Jan (http://watmarpjan.org/) O abade se chama Ajahn Anan, há vários monges estrangeiros morando lá.
- Wat Bonnyawad (http://www.watboonyawad.com) Monastério de Ajahn Tan, o número de estrangeiros é menor, mas há sempre pelo menos um monge disponível que cumpre a tarefa de tradutor.
- Wat Pah Nanachat (www.watpahnanachat.org) É um bom monastério, lá só há ocidentais e em sua maioria europeus ou norte-americanos.
Para mulheres
- O site bhikkhuni.net tem um diretório de muitos monastérios na Ásia onde é possível encontrar ordenação como bhilkkhuni, basta acessar esse link: http://www.bhikkhuni.net/directory/
Já no Mosteiro Suddhavāri, só aceitamos alguém como candidato a ordenação se esta pessoa for bem conhecida por nós – um membro de longa data de nossa comunidade. Também, sendo um mosteiro masculino, só oferecemos ordenação a homens.
Como é a vida monástica?
Em primeiro lugar, é preciso explicar que “monge/monja” dentro do budismo Theravada significa “monástico”, ou seja, uma pessoa que se dedica a uma vida de celibato, simplicidade e reclusão. Deveria ser óbvio, mas infelizmente não é – já a algum tempo algumas tradições budistas abandonaram o monasticismo mas não abandonaram o termo “monge/monja”, o que gera uma considerável quantidade de confusão e mal-entendido.
De qualquer forma, no Theravada existem monges que respeitam todas as regras de conduta (Vinaya) e existem monges que não o fazem. Os que não respeitam a regra são maioria, mas mesmo estes ainda respeitam ao menos as quatro pārājikas: voto de celibato, não roubar, não matar seres humanos e não mentir dizendo ser iluminado ou possuidor de grande elevação espiritual. Qualquer monge que quebre uma dessas quatro regras automaticamente invalida sua ordenação monástica, ou seja, não é necessário expulsá-lo da ordem monástica pois assim que ele cometeu um desses atos ele já não é mais monge.
A verdade é que o Buddha não disse que era opcional respeitar a regra monástica, mas com o passar do tempo o nível dos praticantes vai diminuindo e várias linhas de raciocínio são inventadas para justificar o abandono da disciplina. De qualquer forma, em geral, aqueles que têm real intenção de seguir o caminho de prática que leva à iluminação escolhem observar o código monástico estabelecido pelo Buddha integralmente, por respeito ao Tathāgata e também por enxergar no Vinaya um excelente exercício espiritual que aumenta em muito as chances de sucesso do praticante. A maioria dos grandes mestres estão nos monastérios onde a regra monástica é respeitada.
Quem quiser entender um pouco mais sobre a regra monástica pode ler a introdução do manual de Vinaya escrito por Ajahn Geoff, mas aviso, para que os interessados não se assustem, que na vida real um monge não utiliza todas essas regras, eles em geral só memorizam os pormenores das regras que se aplicam ao dia a dia deles. Por exemplo, existem regras sobre como construir uma cabana (kuti). Um monge que raramente se envolve em tal atividade não vai saber exatamente qual é a regra, mas vai saber que existe uma e se um dia ele tiver que construir uma cabana, ele então vai consultar o livro para saber quais são as estipulações da regra. Ou seja, praticar o Vinaya não é uma tarefa tão assustadora como dá a entender uma leitura do livro e, além disso, com o tempo, passa mesmo a se tornar parte de sua personalidade pois todas as regras apontam para um princípio espiritual e, quando você internaliza aquele princípio, você naturalmente age dentro da regra monástica.
Neste link há várias biografias que podem ajudar a ter uma ideia melhor de como é e quais os desafios e recompensas da vida monástica: https://suddhavari.org/2013/09/biografias/. E aqui há um exemplo de rotina diária de um monastério: http://watmarpjan.org/en/contact/visiting/#tab-1-2-daily-schedule. Aqui há um vídeo onde dá para ver um pouco da vida dentro de um monastério: https://youtu.be/xgaAY38L__A
Em monastérios de floresta não há “escola de Dhamma” com turma, professor e aulas formais. Em geral há uma biblioteca e é responsabilidade dos interessados estudarem o Tipitaka e cuidarem de sua instrução teórica e prática. Quaisquer dúvidas podem ser esclarecidas com o abade do monastério ou com os monges mais velhos. O ambiente de um monastério tailandês é em geral bastante leve e descontraído, e você certamente fará ótimos e sábios amigos lá que lhe ajudarão a enfrentar as dificuldades do caminho.
Quanto dinheiro preciso para virar monge?
Se for se ordenar num mosteiro da Tradição da Floresta Tailandesa, no mínimo irá precisar do valor de uma passagem de ida até a Tailândia (se você é uma pessoa prudente, também irá querer ter em mãos o valor da passagem de volta, para caso você mude de ideia sobre ordenar-se), e uma quantidade mínima de dinheiro para locomover-se e suster-se até que você receba ordenação como noviço (algo em torno de 300 dólares) e a partir deste ponto você renuncia à posse e uso de dinheiro. Nos monastérios vinculados a Ajahn Chah, tudo que é oferecido é bem comum da comunidade e é distribuído de acordo com a necessidade de cada um. Ou seja, uma vez que você tenha se ordenado, você não precisa de dinheiro algum, caso surja alguma situação que requeira despesa financeira – e caso seja possível e apropriado – ela será arcada pela comunidade.
Em monastérios Dhammayuta não há uma forma padrão de funcionamento, em geral é esperado que os monges tenham fundos financeiros próprios depositados com um leigo, que então fica responsável por cuidar das despesas daquele monge. Ou seja, o monastério não te ajuda, mas o dinheiro que é oferecido ao mosteiro é de alguma forma repartido entre os monges. O monge não tem controle direto sobre o dinheiro, sempre que ele precisa que algo tem que informar ao leigo que guarda o dinheiro do monge e esperar que esse faça a compra.
Um comentário que gostaria de adicionar aqui é sobre as ocasiões em que terceiros se voluntariam a financiar aqueles que querem virar monge ou monja. Isso já aconteceu algumas vezes no Brasil, alguns casos deram certos e outros não, quer dizer, a pessoa foi até um país ou outro passar um tempo no monastério mas não gostou ou não conseguiu se adaptar e resolveu voltar. Felizmente ainda não ocorreu de pessoas mal intencionadas se aproveitarem da boa vontade alheia para passear de graça. Quando se aceita uma ajuda como essa, não há nada de errado em mudar de ideia, mas é claro aqueles que gastaram milhares de dólares pagando passagens e cobrindo outros custos devem se sentir não muito felizes em ver o dinheiro sendo jogado fora desse jeito. O que posso sugerir aos que doaram é olhar sobre o ângulo da realização de mérito, e assim poder ficar um pouco mais tranquilos, porque afinal, a intenção de vocês estava correta e a parte que lhes cabia vocês cumpriram de forma perfeita: a pessoa de fato teve a oportunidade de ir até o monastério e se ela não permaneceu, a culpa não foi sua. Ou seja, a boa ação foi realizada de forma completa por aqueles que fizeram as doações e a eles são reservados os méritos dessa doação.
Já aqueles que querem virar monge ou monja deveriam refletir antes de aceitar ajuda externa se vocês realmente têm opções ou não. Aceitar uma ajuda desse tipo deveria ser um último recurso reservado a situações extremas. Uma forma fácil de testar se vocês têm disciplina e força de vontade suficientes para tornar-se um bom monge é se esforçar e acumular os recursos necessários para pagar pelo menos uma passagem de ida até a Tailândia. Acho que é seguro dizer que se uma pessoa não consegue ter disciplina em economizar, não consegue abrir mão de pequenos luxos e prazeres, não tem paciência para juntar o dinheiro pouco a pouco, ou ainda mais grave, não possui um mínimo de qualidades para conseguir arrumar e suster um emprego, por mais simples que ele seja, provavelmente também não vai conseguir enfrentar os desafios da vida monástica. Pensem nisso.
Quem deve virar monge?
A vida laica é muito apropriada para desenvolver os estágios iniciais da prática, acumular paramīs e assim por diante, e a vida monástica é mais útil quando a pessoa achar que já está forte o suficiente para enfrentar o grande inimigo: si mesmo. Mas é óbvio, não é obrigatório, algumas pessoas vão escolher só seguir o caminho laico, outras vão optar por fazer uso da ferramenta que é a vida monástica. Cada um escolhe por si mesmo. Em geral recomendamos às pessoas tentar levar a prática laica à frente o máximo possível antes de querer se aventurar com a vida monástica.
Dito isso, alguns casos especiais merecem atenção:
- Pessoas com problemas de saúde: é bom considerar com cuidado porque se você já está enfraquecido com problemas de saúde frequentes, o fardo disso associado à dificuldade em adotar um novo estilo de vida tão diferente podem ser um pouco demais.
- Pessoas com mais de 45 anos: o corpo de uma pessoa com mais de 45 já não se adapta facilmente a novas situações, sentar no chão por várias horas sem zafu (na Tailândia eles não usam), dormir no chão duro, o calor, conteúdo da dieta e também o fato de ser uma só refeição ao dia, andar descalço, mosquitos, etc., são um desafio ainda maior do que para alguém mais jovem. Com relação à mente, aprender um novo modo de ser, decorar a regra monástica, memorizar suttas, estar no fim da hierarquia – você vai ter que prestar reverência a pessoas às vezes 20 anos mais jovens que você; em vez de dar conselho, vai ter que ouvir o conselho deles, etc… Tudo isso adiciona às dificuldades que alguém mais jovem em geral não enfrenta. Mas ainda assim, nada de muito ruim acontece e muitos que se ordenam já idosos se tornam ótimos monges.
- Pessoas com problemas psiquiátricos: Algumas pessoas tornam-se monge achando que assim seus problemas vão desaparecer, mas não é bem esse o caso pois o treinamento já é difícil e exigente mesmo para uma pessoa com bom equilíbrio mental, que dizer para alguém enfrentando dificuldades crônicas. Em alguns casos a pessoa não melhora em nada, alguns ficam piores. Já vi alguns tendo de ser sedados e mandados para o hospital psiquiátrico (quando chega a esse ponto é comum a pessoa ser expulsa da ordem monástica) e vez por outra ocorrem mesmo casos de suicídio. Não sei de nenhum caso que acabou bem, mas talvez seja porque as pessoas não falam, com vergonha de admitir que enfrentaram tais problemas no passado. Geralmente as notícias que chegam até nós são sobre os casos extremos, que acabaram mal.
E algumas dicas práticas:
- Se vai morar na Tailândia, aprenda a falar tailandês.
- Antes de sair do Brasil deixe uma procuração com algum parente para que eles possam resolver quaisquer questões burocráticas sem sua presença.
- Virar monge qualquer um vira, permanecer monge, quase ninguém.
- Não vá para fugir de algo, vá para enfrentar algo.
- O mosteiro não foi feito para você, as pessoas que já moram lá têm opinião própria sobre como as coisas devem ser feitas e organizadas no mosteiro. É você quem se adapta à cultura e modos deles, e não o reverso. Ninguém pediu para você ir até lá, portanto, vá com humildade e respeito.
- Da mesma forma, o mosteiro não foi feito para ser um paraíso, ele foi feito para ser um local de prática. Quando se chega a um mosteiro, ao invés de ficar catalogando todos os defeitos do local e das pessoas, pergunte-se “Esse lugar é bom o suficiente para eu desenvolver minha prática?”, se a resposta for sim, fique por lá, dedique-se à sua prática e esqueça o resto do mundo. Ao invés de ficar reclamando porque as coisas não são perfeitas como você gostaria que fosse na sua imaginação, tenha humildade e gratidão pela comida, abrigo e auxílio que lhe é dado. O mosteiro e as demais pessoas não são perfeitas e você também não. Se você quer um lugar perfeito, com monges perfeitos e mestre perfeito, vá nascer na época do próximo Buddha. Se aqui e agora você tiver sabedoria suficiente, facilmente se adaptará e colherá os benefícios, mesmo das coisas que lhe desagradam sobre o local.
O conselho final é: pare de ficar procurando conselhos pois essa é uma tarefa tão difícil que não há conselho que resolva. Se a pessoa não tiver as qualidades necessárias para vencer sozinha esse desafio, conselho algum vai ajudar. A única coisa que resta dizer é “Boa sorte!” – Ajahn Mudito
O modo correto de cumprimentar a um monástico é fazer o gesto de anjali (gashô), com as palmas juntas à altura da cabeça ou peito. Apesar de não ser proibido, em geral pede-se que evitem apertar a mão ou abraçar os monges e monjas.
Procure sempre chegar às salas antes do instrutor.
Entre descalço e sem chapéu nas partes interiores do templo.
Não é permitido o consumo de quaisquer intoxicantes nas dependências do mosteiro.
Desligue celulares e demais aparelhos eletrônicos que produzam quaisquer tipo de ruídos, respeitando assim o Nobre Silêncio.
Não é permitida a utilização de inseticidas. Para aqueles que se sentirem incomodados pela presença de insetos, favor utilizarem repelentes que não exalam forte odor, evitando incomodar os demais.
AJAHN – Professor. Na linhagem da Forest Sangha, o monge precisa ter no mínimo 10 anos como monge para que possa começar a ser chamado de Ajahn.
ANATA – não-eu, ausência de essência.
ANICCA – impermanência.
ANUMODANĀ – significa “muitos méritos” ou “eu me regozijo nos seus méritos”; forma de agradecer.
ARAHANT – alguém plenamente iluminado, liberto, que realizou Nibbana.
BHANTE – Venerável Senhor; vocativo para se dirigir e/ou se referir a monges plenamente ordenados. Mais usado na tradição cingalesa que na tradição tailandesa.
BHIKKHU – monge da tradição Theravada.
CÂNONE PÁLI – conjunto de livros em que estão registrados os ensinamentos dados pelo Buddha.
DĀNA – generosidade ou doação.
DHAMMA – o conjunto de ensinamentos do Buddha.
DUKKHA – sofrimento, insatisfatoriedade.
KALYĀNAMITA – amigo espiritual, amigo do Dhamma.
LEIGO – sinônimo de laico, se refere àquele que não é monge ou monástico.
LUANG PÓ ou LUANG PU – Venerável Pai ou Venerável Avô; maneira bastante reverente se referir a / tratar com monges muito sêniors e muito estimados.
MAHĀ – grande.
METTĀ – amor-bondade, amizade amorosa, boa vontade.
MUDITĀ – o oposto da inveja, sentimento de felicidade por algo bom que aconteceu a outra pessoa, que outra pessoa possui ou realizou.
NIBBĀNA – liberação, quando se atinge a iluminação plena.
PÁLI – idioma em que os ensinamentos do Buddha foram originalmente registrados, criado especificamente para este fim.
PAÑÑĀ – sabedoria.
PINDAPATA – caminhada diária realizada pelos monges nos vilarejos próximos de onde estão para esmolar os alimentos que consumirão na refeição daquele dia.
PŪA – homenagem, palavra usada para se referir à sequência de cânticos que reverenciam o Buddha, o Dhamma e a Sangha.
SĀDHU – muito bom, excelente. Forma de agradecer aos ensinamentos oferecidos e/ou de expressar profundo contentamento em relação a alguma coisa.
SAMĀDHI – estado de concentração profunda.
SAMSĀRĀ – ciclo incessante de renascimentos e mortes nos diversos reinos de existência, do qual se liberta através de Nibbana.
SANGHA – os monges, aqueles que abriram mão da vida laica para seguir os ensinamentos do Buddha.
SATI – a capacidade de aplicar a mente a um objeto mental, presença mental.
SĪLA – ética, moralidade.
TAN – Venerável Senhor; forma de se referir e/ou tratar com monges plenamente ordenados que não sejam professores. Para professores/monges com mais de 10 anos de ordenação, é possível usar Tan Ajahn.
THERA – ancião, monges com mais de dez anos de vida monástica.
TIPITAKA ou TRIPITAKA – os três conjuntos de textos que compõem o Cânone Páli: regras de disciplina (Vinaya), discursos do Buddha (Suttas) e tratados de filosofia (Abhidhamma)
UPĀSIKĀ (feminino) e UPĀSAKA (masculino) – discípulos leigos do Buddha.
VASSA – os meses da estação das chuvas na Ásia (agosto, setembro e outubro). Expressão também usada para falar do tempo que um monge tem na vida monástica, desde a sua ordenação plena.
VIHĀRA – templo ou mosteiro budista.
VINAYA – conjunto de livros que contém o código de disciplina monástica; muitas vezes, usa-se a palavra para se referir ao código de disciplina monástica em si.
ZABUTON – colchão sobre o qual colocamos o zafu para meditar.
ZAFU – almofada redonda para se sentar em meditação.