Durante muitos séculos as escrituras budistas foram preservadas apenas através de recitações, e mesmo após a prática de registrar os ensinamentos na forma escrita tornar-se padrão, o hábito de recitar trechos de ensinamentos e versos que relembram as qualidades do Buddha, Dhamma e Sangha continua universal. As biografias de todos os grandes mestres, homens e mulheres, sempre demonstram como a prática de pūja era parte integral de suas atividades diárias.
Apesar de ser comum hoje em dia traduzir os textos para a língua local (o que em si possui muitos méritos), é dito que estes sons em pāli possuem uma força especial. Recitar em pāli, além de ajudar a preservar o significado original dos ensinamentos, são palavras e frases que muitos grandes seres, e muito provavel o próprio Buddha, recitaram no passado, embebendo-as com suas energias espirituais. Além disso, é de se confiar que muitos grandes seres no presente recitam e também no futuro recitarão estas mesmas palavras. Assim, ao recitarmos, criamos uma pequena ponte entre nós e eles, nos unindo numa grande linhagem de peregrinos no caminho da verdade. O ato de recitar o pūja é um costume nobre e antigo.
Estes cânticos são recitados para fomentar inspiração na prática do Dhamma, dar coragem em momentos de dificuldades, estimular a reflexão sobre aspectos do ensinamento e pacificar a mente. Quando recitados regularmente, dia após dia, por muito tempo, as palavras se instalam em nosso subconsciente e costumam vir à tona nas horas mais inesperadas, às vezes causando grandes momentos de insight. Para instruir nosso intelecto utilizamos livros e pensamentos, já esses cânticos são uma forma de também tentar informar camadas mais interiores e sutis da nossa psique.
Instruções
Em geral a prática de pūja é feita perante um altar que na maioria dos casos vai possuir uma imagem representando o Buddha. Não há formato fixo sobre como deve ser esse altar, é possível oferecer pūja mesmo sem a presença de um, mas para aqueles que desejem montar um em casa, aqui vão algumas dicas:
- Caso não tenha como obter uma estátua do Buddha, basta procurar na internet uma representação que lhe agrade – pode ser uma foto de uma estátua ou um desenho do Buddha – então imprimir, mandar enquadrar e utilizá-la como item principal do altar. Há algumas imagens disponíveis neste arquivo: Imagens budistas.zip
- Caso queira incluir fotos de mestres ou imagens representando os sāvakas (arahants contemporâneos ao Buddha), elas devem estar sempre num nível mais baixo que a imagem do Buddha. A imagem do Buddha deve estar no ponto mais alto e central do altar.
- É comum velas e incenso no altar, mas não é obrigatório. Algumas pessoas usam velas e incenso apenas como enfeite, sem acendê-los, já outras acendem as velas representando uma oferenda de luz e o incenso como uma oferenda de perfume às Três Joias. É permitido enfeitar o altar com flores, sinos, māla (algo parecido com um rosário de contas) e mesmo livros ou outros itens relacionados ao Dhamma podem ser postos sobre o altar como objetos de veneração.
- Evite colocar sobre o altar coisas como chaves, canetas, recados, carteira, telefone, etc. O altar não deve ser utilizado como mesa. A única exceção talvez possa ser feita a um relógio para marcar o tempo de meditação, caso não haja um local mais apropriado para colocá-lo.
Não há formato fixo para a pūja, mas uma sugestão que podemos dar é de que o praticante se ajoelhe perante o altar (como na imagem abaixo), acenda as velas e incenso e faça três prostrações.
A partir deste ponto cada um pode escolher quais textos quer recitar, dependendo do que mais lhe agradar e também de quanto tempo quer permanecer recitando. Algumas pessoas preferem pūjas curtas de 15 minutos, outras preferem mais longas, de 40 minutos ou mesmo uma hora, algumas pessoas gostam de sentar em meditação após a recitação. Ao final, novamente fique de joelhos, recite os versos finais, prostre-se, apague as velas e levante-se procurando manter as boas qualidades que foram cultivadas. Também não há regras sobre quando a pūja deve ser feita, algumas pessoas recitam todo dia pela manhã, outras pela manhã e à noite antes de ir dormir, outras durante o dia quando têm tempo livre, de acordo com o que for apropriado.
Não é necessário fazer esforço para memorizar o texto. No começo, faça a pūja utilizando apenas o som das gravações, conforme você naturalmente for memorizando a melodia e a pronúncia, comece a recitar junto, com o tempo você vai poder recitar sozinho sem precisar da ajuda da gravação. Aqui há um vídeo ilustrativo: https://www.youtube.com/watch?v=aoK_86D3tk8
Os textos dos cânticos e suas traduções para o português podem ser encontrados neste link: Canticos-Suddhavari.pdf.