É com grande felicidade que anunciamos a conclusão da obra do nosso Salão de Dhamma.
Quando começamos, tínhamos a esperança de que com os recursos disponíveis na época conseguiríamos concluir a obra sem dificuldades em um prazo de 6 meses, e estávamos muito orgulhosos do fato de que conseguiríamos realizar toda o projeto somente com recursos doados por praticantes do Brasil. Então, em poucos meses após o início dos trabalhos, chegou a pandemia da covid 19. Consideramos por um bom tempo postergar todo o projeto, mas por fim decidimos seguir à frente e ver no que iria dar. Os preços de material de construção subiram vertiginosamente, destruindo por completo nossas estimativas de custo, além de termos muitos atrasos por falta de material em estoque nas lojas, ou trabalhadores e maquinário disponíveis. Além disso, sofremos dois incêndios florestais num intervalo de 3 meses, o que também causou um dano considerável em nossas finanças, além de destruir o trabalho de reflorestamento que já havíamos realizado. Por outro lado, acabamos recebendo doações de ainda mais pessoas do Brasil, e também de outros países como Malásia, Singapura, Taiwan, Tailândia, além de colaborações organizadas por alguns mestres como Ajahn Kongrit, Ajahn Jayasaro, Luang Pó Piak e Luang Pó Sumedho. Por fim, tendo paciência e perseverança, atingimos nosso objetivo.
O desenho arquitetônico foi feito como doação por Lena Reis, e o projeto de engenharia por Daniel Francisco da Silva, também de forma gratuita. Ambos, além de doarem sua expertise na confecção dos projetos, também acompanharam à distância todo o processo de construção, sempre aconselhando e guiando nos momentos mais importantes. A eles devemos toda nossa gratidão.
Além deles, por períodos tivemos também a ajuda do João Nery Rafael e da Tamara Ribeiro na liderança dos trabalhos em campo, além de diversas outras pessoas que ajudaram com inúmeras tarefas e auxílios. Que todos recebam os bons frutos dessa ação e que esse bom carma resulte em progresso em sabedoria e libertação, e o mesmo para todos que ajudaram financeiramente.
O Salão
A área total construída é de 20×12 metros, com área interna de 16×7,5. O telhado segue uma estética tailandesa e tem 9,5 metros de altura, com estrutura de madeira e telhas asfálticas tipo “shingle”. Esse tipo de telha foi escolhida por serem flexíveis, duráveis e leves, o que possibilitou termos um grande vão interno, sem interrupções por colunas de sustentação.
Há uma pequena antessala com bancos para que as pessoas possam tirar seus sapatos e casacos antes de entrar, além de ter uma prateleira com livros para distribuição gratuita e caixa de doações.
Dois recessos servem de espaço para armazenar almofadas e cadeiras. As caixas de som ficam escondidas dentro de pequenos móveis desenhados e construídos como doação por Ricardo Zelly, que também servem para colocar os livros de cânticos utilizados durante as cerimônias.
A paredes laterais são compostas de duas grandes portas de correr, o que possibilita boa ventilação na época de calor, luminosidade, e abertura para que mais pessoas participem das atividades, quando presente um público maior do que o salão consegue comportar.
O tablado e altar é feito de concreto armado com revestimento de madeira. Embaixo do tablado há espaço para armazenamento de material de limpeza e outros itens, e embaixo do altar ficam guardados os equipamentos de som e eletrônicos. A imagem do Buddha em estilo cingalês é o principal componente do altar, com dois “talapat”, leques cerimoniais tailandeses, enfeitando as laterais. Relíquias e fotos de mestres estão presentes como objetos de reverência.
No exterior, há uma estátua tailandesa do Buddha em pé, e um mural que nos foi doado, graças à ajuda de Ajahn Kongrit, pelo Buddhadasa Indapanno Archives (B.I.A.). Essas gravuras são uma reprodução do original contido em Suan Mokkh, e contam a história de uma vida passada do Buddha, cuja lição aponta para a importância de moralidade e não-ganância por bens materiais:
“Em uma vida anterior, o Bodhisatta (aquele que um dia se tornaria o Buddha), nasceu como um raro macaco albino. Ao crescer, tornou-se o líder do grande grupo de macacos vivendo na região de Himavanta, e ele era muito querido e respeitado por todos seus seguidores.
Mas certo dia, um caçador viu os macacos na floresta e fascinado pela aparência do Bodhisatta, decidiu capturá-lo para presentear ao rei Brahmadatta, de Varanasi.
Mantido à força no Jardim Real, o Bodhisatta entretinha o rei e demais pessoas com suas habilidades, mas também pôde observar o modo de viver dos seres humanos, que passavam a maior parte do tempo agredindo uns aos outros por causa de dinheiro e bens materiais, além de engajar em todo tipo de comportamento baixo.
Após muitos anos, o rei, impressionado com a inteligência e nobre conduta do macaco, deu ordem para que fosse liberto de volta à floresta. Ao retornar, o Bodhisatta encontrou seu antigo grupo de seguidores reunidos numa rocha. Eles lhe fizeram muitas perguntas sobre o que havia acontecido e o que ele havia visto na sociedade dos seres humanos, mas o Bodhisatta sempre respondia de maneira evasiva às perguntas, até que enfim lhes falou a verdade sobre a sociedade humana.
Ao ouvir sobre o comportamento das pessoas, os macacos ficaram enojados e imploraram que ele parasse: ‘Por favor, pare! Já ouvimos o suficiente, nunca mais queremos ouvir falar dos seres humanos!’
Os macacos então correram até o rio para lavar suas orelhas, tentando limpá-las da horrível história que haviam escutado. O Bodhisatta e seus seguidores então partiram para fundo na floresta, onde nunca mais teriam que fazer contato com seres humanos.”
O que falta fazer
Todas as partes necessárias para o pleno funcionamento do salão estão presentes. Qualquer coisa feita a partir desse ponto, apesar de úteis, podem ser consideradas não-essenciais. Ainda assim, o que temos em mente fazer quando houver recursos financeiros suficientes é:
- Paisagismo – plantar árvores ornamentais, flores e grama ao redor do salão e ao longo de toda a estrada de acesso.
- Mural no telhado – o edifício foi projetado para ter um mural no telhado, na parte da frente e de trás, seguindo a estética muito comum na Tailândia. Idealmente esse mural seria um relevo, feito em cimento, terracota ou madeira, mas, também é possível ser apenas uma pintura.
- Estátua do Buddha – a estátua atual é feita de fibra de vidro, e tem servido fielmente a Sociedade Budista do Brasil há mais de 30 anos. Uma nova foi oferecida por Ajahn Kongrit, e está atualmente sendo esculpida em Korat, Tailândia. Quando a nova chegar, a atual será reformada, repintada e então posta no salão de meditação interno do mosteiro, com a nova tomando seu lugar no Salão de Dhamma.
Com a presença desse salão, agora não dependemos mais do clima para poder realizar nossas práticas em grupo e é possível agora termos uma instalação fixa dos equipamentos, deixando muito mais fácil o processo de transmissão das atividades via internet. Sendo um edifício 100% planejado e construído com o único propósito de servir como local de prática budista (em vez de um local já existente sendo adaptado para esse fim), pode-se dizer que é um marco importante na história do estabelecimento do Buddha Sasanā no Brasil. Agradecemos a todos que colaboraram de maneira direta ou indireta, e fazemos votos de que os benefícios aqui gerados sejam duradouros e beneficiem e inspirem muitas gerações na prática do Dhamma.
Sadhu, sadhu, sadhu!