Transcrição de palestrada dada em maio de 2021. Clique aqui para ver a gravação original.
Hoje estava pensando em falar sobre tecnologia e responsabilidade pessoal porque estava refletindo sobre o quanto as pessoas pensam que tecnologia traz mais conveniência para elas. Mas não é bem assim, sempre que vem uma conveniência junto vem mais um dever para você também. Sempre que tem alguma facilidade nova que vem da tecnologia vem com isso um dever, você não tem como fugir disso.
As pessoas tentam, por exemplo, remover as dificuldades do mundo exterior, mas se elas não transferirem essas dificuldades para dentro de si mesmas elas vão degenerar. Um exemplo bem grosseiro: antigamente as pessoas comiam o que tinham – elas comiam o que era produzido perto delas, o que era disponível no mercado de acordo com a estação do ano – dentro dessa estação do ano tem essa comida, fora da estação do ano não tem essa comida. A comida era simples, então antigamente não tinha muito problema de obesidade, antigamente comia-se o que tinha. Não havia muito risco de ficar gordo porque o que tinha era só “esse tanto”. Você podia simplesmente comer à vontade porque você não iria comer muito, até porque não tinha muita variedade também, não tem como comer muito se não tem comida preparada em laboratório para ser deliciosa – a comida era simples.
As pessoas tinham uma relação mais sã com a comida. Agora, quando tem comida disponível abundantemente, infinitas variedades de comida, o ano inteiro, e só basta apertar um botão que a comida aparece na porta da sua casa – comida chinesa, italiana, hambúrguer, japonesa, coreana, árabe… qualquer comida que você quiser – e nunca está indisponível, está sempre disponível, qualquer hora do dia e da noite, só apertar um botão, dar uma instrução e a comida aparece como mágica na sua porta.
Beleza, muito confortável, muito conveniente… Só que agora você tem uma responsabilidade: você precisa moderar sua alimentação, tem de ter moderação em comer, você não pode comer à vontade, não pode comer tudo que está disponível, porque o que está disponível é muito abundante e muito variado. Você não pode nem contar com o tédio! Antigamente você só tinha uma quantidade e variedade limitada de pratos, não tinha como comer muito – você come um tanto e já enjoa, então você não exagerava demais. Agora tem uma variedade infinita de comida e uma quantidade, um volume, infinito de comida. Agora você tem um dever a fazer: ter moderação. Tem que controlar, tem que vigiar o que se está comendo, tem que pensar antes. Esse limite antes estava no mundo, agora o limite lá fora no mundo nós removemos, no mundo exterior não há mais limite, então em algum lugar tem de ter um mecanismo de controle, esse mecanismo tem que vir para dentro.
E isso é para tudo, qualquer coisa que acontece tem esse mesmo mecanismo, essa mesma dinâmica. Por exemplo, o celular: antigamente só se assistia TV e ouvia música quando chegava em casa, agora você pode ver TV e ouvir música 24 horas por dia, no ônibus, andando na rua, e não tem limite! Antigamente tinha que comprar o disco e tinha uma quantidade limitada de discos disponíveis, agora não, tem todos os discos disponíveis a qualquer momento, só apertar um botão e qualquer disco do mundo está disponível imediatamente. Inclusive a palavra disco já não faz mais sentido hoje em dia, a música não vem em discos.
Se a pessoa se entregar completamente a isso ela não vai ter nunca um minuto de silêncio na vida dela, vai passar cada minuto acordado ouvindo alguma música, assistindo alguma televisão, vendo algum Youtube, olhando o Facebook… As pessoas ficam viciadas, não conseguem mais parar.
Tem uma pessoa me falando que chega a virar uma síndrome isso! A pessoa, por exemplo, você tira o telefone dela e guarda em uma gaveta, a pessoa começa a ter um ataque de ansiedade. Deixa a pessoa 15 minutos sem o telefone e ela começa a ter um ataque de ansiedade. O telefone, quando recebe uma mensagem, ele vibra né, tem caso em que se tira o telefone da pessoa ela continua sentindo o telefone vibrar no bolso! É como quando se corta o dedo da pessoa fora e a pessoa continua sentindo o dedo, mesmo que ela não tenha o dedo, ela continua sentindo o dedo ali. Se você tira o telefone da pessoa, ela continua sentindo o telefone vibrar no bolso, só que não tem telefone nenhum ali, é apenas imaginação dela! A coisa fica esquisita a esse ponto. Toda essa facilidade e conforto, se a pessoa não tem uma atitude de pôr limites, vira um veneno para a mente dela.
Antigamente também havia problemas, a gente reclamava: “as pessoas não têm voz! Somente os ricos falam na televisão! Tem uma elite que dá opinião e todo mundo segue, ninguém tem opinião, todo mundo segue o que os outros falam.” Antigamente era somente a Rede Globo e o SBT… somente a Rede Globo mesmo, o SBT era muito fraco. Então tinha essa história de “A Rede Globo manda no país! Tudo que ela fala o povo segue!” pois não tinha muita oportunidade de ter uma opinião diferente, qualquer que seja… não tem acesso, só quem tem acesso a possibilidade de dar opinião é um grupo fechado de pessoas. E hoje em dia não, hoje qualquer pessoa dá opinião, todo mundo fala, todo mundo tem uma câmera de vídeo – antigamente ninguém tinha uma câmera de vídeo, era uma coisa que nem chegava a ser de luxo, era algo impensável: “Como você tem uma câmera de vídeo? Isso não existe! Uma câmera de vídeo em casa!!!?” Mesmo que tivesse aquelas de VHS que fica com uma imagem péssima, como você iria divulgar aquilo? Não tem estação de TV, não tem como mostrar aquilo pras pessoas – hoje em dia essas câmeras dos celulares são incrivelmente boas, a qualidade da imagem é fantástica, e você consegue divulgar para o mundo inteiro! Antigamente o pessoal divulgava era só para estação regional da cidade tal, e aí algumas redes de televisão que se chamavam “Rede de Televisão Tal e X”, “Rede Globo”, “Rede SBT”, “Rede Bandeirantes” que era um agrupado de transmissoras regionais que retransmitiam um mesmo programa para o país inteiro.
Mas hoje em dia você vai além disso: sem ter nenhuma estrutura de empresa, estúdio, antena de transmissão, rádio, TV, canal HF e VHF, sem nada disso você transmite para o mundo inteiro, aperta um botão e consegue transmitir para o mundo inteiro. É algo que nem a Rede Globo tinha antes, não conseguia fazer isso antes, por mais poderosa que ela fosse, não conseguiria transmitir um programa no Japão, não tinha como. Para conseguir transmitir algo no Japão teria de ter uma filial regional de banda de rádio designada para você, um satélite. Hoje em dia um zé ninguém tem mais capacidade do que a Rede Globo tinha de expressar suas ideias e opiniões.
Então, bacana né? Não existe mais o monopólio… Só que agora tem um problema: todo mundo dá opinião! (risos) E aí que acontece aquela frase de não sei qual filósofo grego que falava “Democracia é o sistema de governo dos tolos”, porque é o governo da maioria, e a maioria das pessoas são tolas. São poucas as pessoas sábias, é uma característica do mundo, é um fenômeno comum, é um fenômeno normal, poucas pessoas são sábias e muitas pessoas são tolas. Quando todo mundo tem voz, a maioria da conversa é conversa fiada, sem pé nem cabeça, conversa errada, de ódio, de raiva, de inveja, de vaidade, de coisa vã e chula, superficial.
Então sim, agora tem uma quantidade infinita de coisas para olhar, mas a maioria delas são inúteis ou danosas. Agora você tem o conforto de poder olhar o entretenimento infinito, só que junto com o entretenimento infinito você tem o dever e o trabalho de ter cuidado de selecionar o que você vai olhar porque se você simplesmente se entregar à distração e ao que os outros fazem, sua personalidade vai regredir a um estágio infantil. Que é o que nós vemos hoje em dia: as pessoas estão todas infantis, não conseguem mais conversar, os gostos estéticos, os gostos de música, de tudo, as pessoas estão regredindo a níveis infantis e até animalescos, as pessoas estão regredindo ao nível de macacos.
Então o “progresso” trás uma degeneração junto, progride de um lado e degenera do outro. Nenhum progresso material ou tecnológico vem isento desse mecanismo, isento dessa dinâmica. Isso se aplica a qualquer outra coisa, desde automóvel, eletricidade… Eletricidade por exemplo, pessoal fala “se a eletricidade fosse mais barata, ia ser bom”, se a eletricidade fosse mais barata as pessoas iriam desperdiçar ainda mais, isso já foi observado em outros locais. No final as pessoas consomem ainda mais, não apagam mais as luzes ou então colocam um holofote gigante do lado de fora, começam a fazer enfeites com a eletricidade. Quanto mais você barateia a eletricidade, mais desperdício você observa. Se barateasse a gasolina, por exemplo, as pessoas iriam consumir ainda mais gasolina, iria ter muito mais poluição, muito mais trânsito. Se você barateasse o automóvel, a quantidade de poluição no ambiente iria aumentar ainda mais. Todas essas coisas têm sempre um custo agregado, não estou dizendo que deve ou não baratear o automóvel, o que eu digo é o seguinte: tudo que você faz tem consequências.
Sempre tem um lado bom e um ruim, não tem nada que seja isento disso, qualquer coisa que você vai fazer – principalmente quando você está lidando com bens materiais e coisas mundanas – sempre tem um aspecto negativo bastante evidente. Enquanto as pessoas não acordarem para esse fato, a situação vai ficando cada vez pior, a situação do mundo vai regredindo até que, é bastante possível, chegue um ponto de ruptura, um ponto de colapso.
Com relação às mídias sociais: todo mundo ter uma voz e poder expressar sua opinião é algo que nunca foi preocupação no passado. Já hoje em dia é uma questão de vida ou morte – ou deveria ser, não sei se as pessoas já perceberam isso ou não, mas já é uma questão de vida ou morte que pode trazer um colapso da sociedade. Por exemplo a questão da verdade, levar a sério a expressão da verdade. Antigamente contar uma mentira, dizer uma fofoca, nunca foi um crime e até hoje não é crime, as pessoas mentem descaradamente, passar informação errada, falam besteira sem pé nem cabeça, e ainda assim ninguém pensa que isso é crime, ninguém acorda, as pessoas não conseguem conectar causa e efeito, quais são as consequências disso.
Dá para ver, as pessoas não têm mais nenhuma forma de coordenação social, qualquer decisão que é tomada não consegue ir para frente porque as pessoas não conseguem coordenar, concordar, e sempre que alguém tenta passar alguma informação, surgem mais 50 trazendo informações contraditórias. Quando alguém fala “A”, surgem 15 falando “ABXYZ elevado ao quadrado”! Não tem nem como, é uma coisa que, ou você começa a levar a sério o assunto, de falar a verdade, de ter responsabilidade pelo que diz, criar mecanismos para que as pessoas respondam por aquilo que disseram, ou então isso continuará se agravando até um ponto que ninguém mais sabe o que é para comer ou beber! “Não sei se beber água mata ou não”, “beber água ajuda ou piora?”
Chega a um ponto que a pessoa não consegue ter mais acordo sobre nada, absolutamente nada. Nem um remédio, ninguém sabe se um remédio é bom ou não, se fazer exercício é bom ou não, se é preciso dormir, não é preciso dormir, coisas que qualquer pessoa conseguia fazer antes hoje em dia não consegue nem decidir o que é veneno e o que é alimento.
Chega a uma falta de conexão com a realidade que as pessoas vivem no mundo de ideias, não tem mais conexão com a realidade, com aqui e agora, com a realidade ao redor delas. A maior parte do tempo elas habitam um mundo de ideias, frases e discussões, e passam o dia inteiro no celular. Passam o dia inteiro ocupando a mente com assuntos que não estão ali perto dela, são assuntos que estão em algum outro lugar e outras pessoas falando. Um grupo de pessoas discutindo e alguma pessoa falou isso e houve uma reação daqueles que ficaram ofendidos porque ele disse aquilo e vai, e volta, e vai… E não chega a lugar nenhum, ficam andando em círculos nesses assuntos. E ficam cada vez mais desconectadas e ausentes da realidade… E qual o nome dessa doença? O nome dessa doença é loucura! As pessoas não têm vínculo com a realidade, vivem no mundo das fantasias, são doidos.
É uma histeria coletiva, uma insanidade coletiva que vai se construindo e aumentando cada vez mais. E gente doida não consegue fazer muita coisa, gente doida não consegue fazer o metrô funcionar, não consegue produzir uma safra de arroz, de trigo, se todo mundo é doido mesmo, não conseguem! Não conseguem ligar o motor do trator e dirigir ele reto, não conseguem jogar a semente no chão e regar de maneira correta. Quanto mais vai se perdendo essa capacidade de clareza mental, mais incompetente as pessoas vão ficando. Já não conseguem mais ter competência para organizar serviços básicos, não conseguem mais ter uma aula, o que é para ensinar as crianças, não consegue mais organizar uma escola, um curso de ginásio. Agora nem tratamento médico consegue mais organizar e decidir! O que é tratamento médico e o que não é tratamento médico? Chegou um ponto que as pessoas não têm mais coesão suficiente para decidir o que é e o que não é.
Isso vai se agravando cada vez mais, esse tipo de coisa vai ficando cada vez pior. Imaginava-se que chegaria um ponto em que a coisa ficasse tão ruim que as pessoas começariam a ficar incomodadas, e quando elas começassem a se incomodar elas iriam se preocupar com o assunto: “bem tem alguma coisa dando errado aqui, qual é o problema e como nós solucionamos isso?”. Mas a questão é: se as pessoas ficarem tão incapacitadas ao ponto de elas não conseguirem mais identificar um problema e não conseguirem mais imaginar uma solução, não dá mais para você confiar que um dia elas vão fazer algo a respeito. Talvez a coisa continue indo para baixo até virar uma selvageria total, virar um país de total selvageria, que não tem mais nada além de um monte de gente se agredindo. Não são os estrangeiros que estão agredindo, nós nos agredimos sozinhos o tempo todo, não tem nada, nenhuma coesão social, nenhuma percepção de que estamos juntos aqui. É como se fosse um saco de gatos. É algo a estar atento.
E isso, na minha opinião, tem tudo a ver com tecnologia. E não tem como você impedir a tecnologia, isso não seria uma solução, porque se a tecnologia existe e as pessoas desejam aquela tecnologia, não tem como segurar – esquece, é impossível. Nem drogas a gente consegue impedir que as pessoas usem, imagine conseguir impedir que as pessoas façam uso de algo que é útil. Nem drogas que não são de fato úteis a gente não consegue impedir, e por que a gente não consegue impedir? Porque as pessoas têm desejo, elas querem aquilo e, mesmo que não seja útil, você não vai conseguir impedir porque as pessoas querem, e se elas querem aquilo, elas vão dar um jeito.
Agora, se tem uma tecnologia e as pessoas querem aquela tecnologia, e aquela tecnologia é útil, você não vai ter nem argumento para impedir que elas tenham acesso àquela tecnologia, não vai conseguir nem suster o argumento. Então, não tem por que você querer impedir o avanço da tecnologia. O que você consegue fazer é conscientizar as pessoas dos deveres que vêm junto com a tecnologia. E isso também não só inclui a questão de educar as crianças, de educar os adultos, mas também inclui a questão de lei, de criar mecanismos sociais que evidenciem o que é errado e o que é certo – que deixe bem claro o que é errado e o que é certo – porque se não houver esse tipo de coisa…
O que é errado e o que é certo muda de acordo com a situação. Por exemplo, num país em que as pessoas têm muito poder de fazer as coisas, a quantidade de leis que regem o que você faz ou não é muito grande. Há muito equipamento e máquinas disponíveis, e é tão barato, as pessoas têm acesso a essas máquinas… Quando eu morava no mosteiro na Nova Zelândia precisávamos abrir uma vala para passar um fio elétrico, o cara veio com uma máquina de abrir vala! É como se fosse uma motosserra gigante, o cara enfia na terra e aquilo vai cavando, ele fez 50 metros sozinho numa tarde e mais bem feito do que se fosse feito na enxada! Quando as pessoas têm esse tipo de poder, você precisa começar a colocar regras. Se não elas vão sair por aí arrebentando tudo, montanha, floresta, construindo casas e um monte de coisa esquisita sem nenhuma fundação e parâmetro, e vira uma bagunça. Se quiser um exemplo extremo vai para a Índia, para Bangladesh, chega ser uma coisa artística como as pessoas conseguem fazer bagunça! É tanta coisa, uma em cima da outra, que você não consegue nem imaginar como chegou a esse ponto, totalmente sem regra nenhuma, e as pessoas vão fazendo que chega um ponto que tem até uma beleza…
Mas se as pessoas não têm tecnologia, tem um limite natural do que elas conseguem fazer. Se você só tem uma enxada na mão, nem precisa de botar regras, por exemplo aqui (apontando os arredores do mosteiro) não tem regras, não precisa nem de um engenheiro nem de um arquiteto para construir uma casa no campo, porque atualmente não tem muito o que você consiga construir. No campo as pessoas não têm dinheiro para construir, e mesmo que tenham, não têm tecnologia, as pessoas não têm máquinas, então vão construir com tijolo, com madeira, não tem como fazer algo muito estranho, não há necessidade de regras. Já na cidade tem de ter regras, porque tem muita gente e tem mais facilidade e acesso a tecnologias diferentes.
O que é certo e o que é errado depende da situação. Quantas regras precisam ser criadas, que tipo de regra precisa ser criada, depende do que está acontecendo. O que está acontecendo define as regras, as leis e as proibições que precisam ser criadas. Precisamos acordar para o fato que tem algo acontecendo aqui e agora, e como tem algo acontecendo aqui e agora que não acontecia antes, é urgente que a gente repense quais são as regras de engajamento e regras de conduta. Porque as regras antigas de conduta não estão sendo efetivas para evitar que as pessoas cometam atos danosos. As pessoas hoje têm novas possibilidades de fazer coisas, junto com essas novas possibilidades é necessário que surjam novos limites do que pode ou não ser feito. É uma questão urgente já, a essa altura do campeonato já deveria estar sendo conversado e posto em prática. Mas eu nem sei se isso está sendo conversado em algum lugar.
Principalmente quando os novos políticos se elegem baseado nessa ausência de regras, o mecanismo para se eleger é essa ausência de regras, aí é que não vai ter regra nenhuma mesmo – por isso não acaba a corrupção no país, pois as pessoas que deveriam acabar com a corrupção são as que se beneficiam dela. Como esperar que a corrupção acabe? Não tem como. Então, se as pessoas estão dispostas a deixar o país pegar fogo para não perder uma vantagem que elas pessoalmente têm, provavelmente é isso que vai acontecer. Se os políticos são eleitos graças a essa bagunça toda, não tenha muita esperança de que a bagunça vá acabar.
Volta para nós a tarefa de sermos mais responsáveis consigo, por exemplo: não lendo, não olhando, não dando audiência para quem espalha fofoca, não dando audiência para quem espalha mentira, não dando audiência para quem manipula os outros ou a situação, para quem não tem noção do que está falando, que fala à toa. Se as pessoas tivessem noção que a mídia social está sendo muito mais danosa do que útil, elas podiam simplesmente parar de usar Facebook, parar de usar Instagram, parar de usar essas coisas. Iria resolver boa parte do problema, parar de se expor a essas coisas. Como não está com cara de que se possa esperar que isso venha do nível governamental, tomara que as pessoas tenham uma noção de responsabilidade pessoal e façam algo a respeito. No mínimo do mínimo, elas poderiam parar de olhar, parar de dar audiência.
Agora, como as pessoas são fracas emocionalmente, como elas não têm fortaleza emocional, elas são vítimas do seu próprio distúrbio pessoal. A ideia de não olhar, de não se distrair, é inconcebível, não se distrair é doloroso demais, estar em silêncio é insuportável, estar consigo mesmo é insuportável. As pessoas, por incompetência, acabam se expondo a todo tipo de bagunça da mídia social, no Youtube, etc. Na televisão também, porque a televisão ainda existe, as pessoas ainda assistem. Como as pessoas não têm o mínimo de competência pessoal, elas também não têm fortaleza para evitar propagar esse tipo de doença, de insanidade. É um ciclo fechado.
Mas, vamos ver né, ao menos você joga a ideia, se as pessoas divulgarem isso e passarem a ideia adiante, talvez… Porque o sofrimento também existe, por mais que tenha essa insanidade toda, também existe o sofrimento. E é óbvio olhar a agressão e a falta de coordenação, e é fácil de perceber como a falta de capacidade de colaborar um com o outro gera problemas. Então, conforme o sofrimento for aumentando, talvez a quantidade de pessoas que se tornam sensíveis a essa ideia aumente junto. Pode ser até que existam pessoas suficientes para exigir isso do governo. Tem muito o que fazer por enquanto.
Quem tiver inteligência procure se proteger e não dar mais audiência, não dar mais plataforma, não busque interagir, olhar, responder, passar adiante, não dê mais atenção à essas pessoas que querem atenção. As pessoas que não merecem atenção não são só as má intencionadas, também são as que não sabem o que estão falando. Por mais que sejam “legaizinhas”, sejam “bacanas”, elas não sabem o que estão falando e portanto não merecem a sua atenção. Porque se você der atenção para elas, você apenas encoraja mais e mais as pessoas a falarem sem saber do que estão falando – precisa ter uma noção de responsabilidade pessoal nesse nível. Só de você olhar já piora a situação, essa é a dinâmica da tecnologia que nós temos hoje em dia, só de olhar já aumentou a quantidade de visualizações daquela pessoa, e aí você está encorajando ela. Mesmo se você olhou para reclamar, mesmo que você olhou para achar defeito, para achar ruim, ainda assim você olhou então conta lá que mais uma pessoa olhou e quanta mais as pessoas olharem, mais a pessoa se sente encorajada a repetir aquele tipo de comportamento.
Então tem que ter uma noção de responsabilidade social nesse nível, e talvez ajudar a divulgar essa ideia. Não precisa divulgar esse texto especificamente, mas sim a ideia em si – não é o texto que precisa ser divulgado, mas sim a ideia. É muito simples mas quem tiver melhor capacidade de explicar isso, melhores palavras e uma maneira que faça mais apelo às pessoas em geral, que faça isso. E mesmo que atualmente não tenha muita gente sensível a essa ideia, ainda sim vale a pena fazer um esforço, porque conforme as coisas ficarem piores e piores, a quantidade de sofrimento vai aumentando cada vez mais. Conforme a quantidade de sofrimento vai aumentando cada vez mais, algumas pessoas vão tendo um movimento de procurar o que está errado, o que pode ser feito para melhorar. Então vale a pena pensar a respeito disso, vale a pena conversar sobre isso, vale a pena tentar analisar esse assunto de uma maneira um pouco mais profunda e ver o que pode ou não ser feito a respeito.