Quando o Buddha criou a ordem monástica, estabeleceu que os monges têm por dever viver da caridade alheia. As razões para isso são muitas: evitar que os monges se distanciem da sociedade em que vivem, desenvolver nas pessoas a qualidade da caridade, treinar os monges a terem humildade e contentamento, e muitas outras.
Além dessas razões, é compreendido que o simples ato de ver um monge também gera a oportunidade para reflexão e insight nas pessoas, da mesma forma que ocorreu com o Buddha quando decidiu abandonar a vida laica e seguir a via de um renunciante após enxergar quatro imagens no mundo – a última sendo a imagem de um monge mendicante.
Da forma que a regra monástica foi criada por ele, os monges não podem plantar, colher, cozinhar ou mesmo armazenar alimentos. Só podem comer aquilo que foi oferecido como esmola no mesmo dia, significando que obrigatoriamente devem sair diariamente para recolher alimentos, o que é conhecido como pindapāta.
Eles saem de manhã, de olhos baixos, carregando suas tigelas de esmola e simplesmente caminham pelas ruas. A eles não é permitido pedir(*) nada, apenas podem caminhar em silêncio se fazendo disponíveis àqueles que queiram doar. Caso uma pessoa os veja e queira oferecer algum alimento, ela então se aproxima e deposita a comida em sua tigela, após o qual é comum o monge recitar uma bênção em agradecimento.
Dessa forma, os monges são obrigados a viver perto das pessoas e se expor à sociedade ao redor deles. Também os obriga a cumprirem seu papel de professores e guias espirituais à população – se as pessoas não enxergarem bondade e valor neles, não doarão seu sustento.
Retorno à rotina normal
Desde o começo da pandemia do Covid 19 decidimos suspender a prática de pindapāta tanto para proteger os monges como os doadores e colaborar com as ordens de distanciamento social. Mas, uma vez que no mosteiro também residem praticantes leigos, nele há uma cozinha e foi ela que forneceu as refeições dos monges durante todo esse período.
Agora que a maioria das pessoas já está sendo vacinada, inclusive os monges, vamos retomar a prática de sair pela manhã recolhendo esmolas na estrada próxima ao mosteiro. Aqueles que quiserem oferecer um pouco de comida aos monges, podem seguir as instruções contidas nesse link para fazê-lo.
Da mesma forma que essa tradição ensina aos monges humildade e contentamento, ensina às demais pessoas a caridade e renúncia. Dentro do budismo, a prática da caridade é a forma mais básica de desenvolver boas qualidades e fomentar saúde mental. Ela aumenta sua autoestima, a capacidade de abrir mão, bem-querer e compaixão, criando assim a fundação ideal sobre a qual os demais estágios do caminho para iluminação são construídos.
Quem quiser ler um pouco mais sobre o papel da caridade dentro da prática budista, pode visitar esse link.
Anumodanā!
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* Os monges só podem ativamente pedir alimentos caso: estejam doentes, passando fome, o doador seja um parente próximo, ou caso o doador os tenha feito um convite para que peçam.